Não podemos dizer-nos cristão se não formos simultaneamente católico

Desde a época apostólica os discípulos de Jesus se chamavam ‘cristãos‘ para designar sua adesão a Cristo; e ‘católicos‘ a fim de indicar sua integração na Igreja que o Senhor lhes deixara para sua santificação. Enquanto cristãos eram discípulos de Cristo e com ele de tal maneira unificados que lhes era comunicada a sua própria vida
divino-humana. Como católicos, eram membros da Igreja e dela recebiam a doutrina da fé cristã e os sacramentos.

Santo Agostinho, famoso teólogo e bispo de Hipona, afirma em suas Confissões ter sido este o mais vivo desejo de sua mãe Santa Mônica (falecida em 387), quando lhe revelou: ‘Por um só motivo desejava prolongar um pouco mais a vida: para ver-te cristão católico antes de morrer‘.

Santo Agostinho

Destarte, a partir dos primeiros séculos cristãos não nos dizemos cristãos se não formos ao mesmo tempo católicos. Nem podemos declarar-nos católicos sem antes sermos cristãos. Como não se pode desvincular Cristo de sua Igreja, nem separar a Igreja de Cristo, tampouco havemos de isolar nosso ser cristão de nosso agir católico. Afirmar-se cristão sem estarmos na Igreja, seria ignorar a instituição que Cristo quis para nossa santificação. Nem faz sentido professar-se católico sem ser ao mesmo tempo cristão.

Experimentamos facilmente que todas as satisfações deste mundo trazem em si um sabor amargo. As flores murcham. As rosas têm espinhos. O que nos agrada, logo termina. O sorriso acaba em pranto. A felicidade mora ao lado do infortúnio. E diante da morte fracassa nossa imaginação. Compreendemos então que deve haver em nós uma semente de eternidade; e que fomos criados para uma vida feliz além dos limites da existência terrestre. Entendemos que Deus nos chama para estarmos com Ele na comunhão perfeita da incorruptível vida divina.

O desejo de Deus está inscrito em nosso coração. Percebemos que fomos criados por Deus e para Deus; e Ele não para de atrair-nos a si; e somente nele encontramos a verdade e a felicidade que não cessamos de procurar. Deus nos criou por amor; e por amor nos conserva na existência. E ainda que o homem esqueça ou rejeite o Criador, Deus, de sua parte, continua a chamar todo o homem e a procurá-lo, como o bom pastor busca a ovelha perdida, para que viva e encontre a felicidade. Vale a célebre constatação de Santo Agostinho no começo de suas Confissões: ‘Nos fizestes para vós, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós‘.

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